*por João Matos
Em tradução livre, o termo Open Talent Economy significa “Economia Aberta de Talentos”, e se refere a um grupo de pessoas que oferecem serviços, mas não possuem vínculos diretos de trabalho com uma empresa em específico. Em outras palavras, as empresas têm acesso às habilidades e serviços destes profissionais, mas sem tê-los como funcionários. Este tipo de economia é caracterizado por grupos ou comunidades de pessoas que são contratados e comumente utilizados pelas corporações na terceirização e desenvolvimento de projetos, avaliação e feedback de produtos e na nutrição de plataformas digitais e redes sociais, por exemplo.
Pessoas que fazem parte desta economia costumam valorizar rotinas mais flexíveis, altamente especializadas, boas em administrar seu tempo eficientemente e gostam de participar em diferentes projetos.
É evidente que atualmente há um grande movimento contra o modelo tradicional de trabalho, com profissionais procurando formatos mais confortáveis, produtivos e autônomos, com maior foco em qualidade de vida e realização pessoal. Por estes motivos, o novo modelo traz desafios para as áreas de recursos humanos e liderança das companhias. Ele demonstra um universo mais amplo e diversificado e exige das empresas novas abordagens sobre políticas de gestão de talentos, que precisam ser mais flexíveis e integradas. Esta nova ideologia é vital para alguns setores, que enfrentam a dificuldade de atrair e reter novos profissionais em suas empresas, como é o caso da área de tecnologia e segurança, que só este ano, já projetou um déficit de 3,4 milhões profissionais no mundo.
- Qualificação e escassez
Utilizando de uma economia de talentos aberta, as empresas não precisam se preocupar tanto em investir e reter um profissional qualificado, nem em possuir uma equipe muito robusta. Por meio do trabalho destes autônomos, a organização é capaz de usufruir da expertise e da mão-de-obra de especialistas, sem comprometer o tempo e as funções da força de trabalho interna. Este tipo de atitude pode ser usado para impulsionar ou dar continuidade a antigos projetos, enquanto ainda não se possui a mão-de-obra qualificada necessária para isso.
- Agilidade
Profissionais deste tipo de modelo costumam trabalhar e receber por projetos, então não há a necessidade, nem o interesse em prorrogar a entrega. Um serviço rápido e bem-feito permitirá que estas pessoas aumentem sua demanda de trabalho.
- Know-how
Mesmo com um time interno bem elaborado, é comum haver gaps nos conhecimentos e nas habilidades dos colaboradores. Muitas vezes, uma perspectiva externa pode preencher estas lacunas e oferecer uma solução diferente ou complementar a da empresa, adicionando novos features a produtos, ou encontrando vulnerabilidades nas operações da organização, por exemplo.
Um exemplo Open Talent Economy em cibersegurança?
O setor de tecnologia como um todo sofre com o déficit de profissionais qualificados para ocupar a quantidade de vagas ofertadas pelo mercado, mas, em, segurança pode se dizer que sempre foi assim. Plataformas de bug bounty são bons exemplos, com os programas de recompensas para pesquisadores de cibersegurança. No bug bounty, profissionais qualificados têm acesso a plataformas para procurar e reportar vulnerabilidades nos produtos e aplicações levantados por empresas de forma responsável.
Estes profissionais oferecem um tempo do seu dia para compartilhar o conhecimento geralmente já aplicado em seus respectivos ambientes de trabalho para auxiliar as demais empresas que oferecem recompensas por vulnerabilidades encontradas em suas aplicações. Com isso, as empresas que possuem programas de bug bounty ganham o auxílio da comunidade formada por milhares de cabeças que pensam de formas diferentes (metodologias de pesquisas diversas) observando suas aplicações em busca de bugs 24/7; mas claro, cada programa tem sua atratividade, pois neste caso quem estipula o preço por vulnerabilidades são as empresas (geralmente o mais atrativo é aquele que oferece melhores recompensas).
Desta forma, fica bastante fácil e prático para empresa realizar e gerenciar este programa e se envolver com a comunidade de pesquisadores brasileiros. Por um lado, a empresa está melhorando a segurança do seu negócio e identificando fraquezas em sua estrutura e o pelo outro, o pesquisador está sendo remunerado e está ganhando reconhecimento e contato com uma organização do setor.
Essa prática já é comum internacionalmente com plataformas globais de gerenciamento de programas de bug bounty como HackerOne e BugCrowd, e, nacionalmente, desde 2018, com o lançamento do Hackaflag e com o surgimento da BugHunt em 2020. O tema cresce exponencialmente no país com empresas do porte de C6 Bank, BMG, Tim, OLX, Banco PAN, Nubank, Banco Inter buscando este conceito para de alguma forma preencher a necessidade da robustez nos times de segurança contando com profissionais das outras instituições que formam essa comunidade de pesquisadores brasileiros.
João Victor Matos atua no mercado de tecnologia da informação há 12 anos. Atualmente, é diretor executivo do Hackaflag.