Em nosso artigo anterior “Inovação tecnológica e segurança cibernética – desafio dos líderes” começamos a analisar algumas questões relacionadas a inovação, competitividade e riscos de cibersegurança das empresas inovadoras; para tanto apresentei um modelo que propõe quatro possíveis posturas relativas perante inovação: líder, seguidor rápido, seguidor lento e não seguidor. Naquele primeiro artigo analisamos os riscos das duas primeiras posturas, e neste artigo vamos aprofundar a análise das posturas de seguidor lento e não seguidor.
Seguidor Lento
A terceira postura é a do seguidor lento, cuja proposta é só adotar o que já está consolidado, tecnologias já padronizadas, ele irá investir em tecnologia antes que seja tarde demais, mas somente depois que os protagonistas já o fizeram, não será um dos últimos, mas nunca estará entre os primeiros a inovar no setor.
Podemos dizer que o risco do seguidor lento é até certo ponto imponderável, sendo que o risco positivo é que dificilmente o seguidor lento irá adotar alguma tecnologia que não pegará, ou seja, ele terá uma baixa probabilidade de insucesso tecnológico, no sentido de apostar em algo que não vai dar certo, pois quando ele for adotar a tecnologia já terá grande convicção de como a tecnologia em questão funciona, uma vez que já está bem padronizada.
Porém, o risco negativo muito forte e muito intenso é representado pela possibilidade de comprar tecnologia velha, em declínio ou obsoleta. Lembrando que o parâmetro para definir este modelo é o nível de gastos em TI, e uma vez que o seguidor lento gasta pouco no assunto, seja em hardware, software, bem como em pessoas, logo é de se esperar que sua capacidade interna de gestão do assunto seja também limitada, em outras palavras, é de se esperar que o conhecimento de sua equipe sobre o assunto seja baixo. E na hora de buscar “novas” tecnologias a equipe terá dificuldades para discernir e escolher, ficando muitas vezes à mercê de quem está vendendo, que obviamente tem que vender tanto as soluções mais novas, como as que já estão a caminho da obsolescência, que fatalmente serão vendidas aos seguidores lentos.
Este é um grande risco porque comprar tecnologia em declínio pode ser um grande problema, dependendo do uso que a empresa terá que fazer dela, quando precisar de suporte para essa tecnologia pode ser difícil encontrar, e/ou pode também devido à escassez ser bastante oneroso. E, mesmo antes de apresentar problemas que demandem suporte, uma tecnologia obsoleta pode deixar de ser compatível com um mundo em constante e rápida evolução tecnológica.
Não Seguidor
A quarta postura é a do não seguidor, cuja proposta é somente adotar inovações quando for obrigado a fazê-lo, quando for inadiável, ele está entre os últimos do setor em que atua na adoção de novas tecnologias, e, portanto, é o que apresenta o menor nível de gastos em TI.
O risco do não seguidor é elevado, apesar da baixa probabilidade de insucesso tecnológico, o risco de sobrevivência do negócio, no médio-longo prazo, é inevitável. Se estamos acreditando, e na verdade enxergando a realidade, onde a tecnologia está presente em tudo, onde as empresas estão elevando o nível de informatização, e como consequência o mundo está cada vez mais competitivo; alguma empresa que escolha adotar a postura de não seguidor correrá um risco de continuidade do negócio muito grande.
Pensando nas questões de cibersegurança, estas posturas menos protagonistas, correm um risco negativo enorme pois, como não têm os investimentos em tecnologia em geral como prioridade, fatalmente deverão também ter uma baixa maturidade no assunto, e com baixa maturidade em cibersegurança aumentam sobremaneira as dificuldades para gerenciar o assunto, portanto os colaboradores tendem a ter um baixo nível de educação cibernética, além de ser muito provável que seus processos e procedimentos também estejam defasados no que diz respeito a segurança cibernética, especialmente empresas com a postura de não seguidores.
Importante ressaltar que não existe uma “escolha certa”, à medida que não existem “fórmulas mágicas”, e, portanto, estamos tratando de decisões difíceis.
As empresas que decidem optar por posturas protagonistas, seja como líder ou como seguidor rápido, mais sujeitas estarão aos riscos de vulnerabilidades desconhecidas, e uso das novas tecnologias sem considerar amplamente os aspectos de cibersegurança.
Por outro lado, as empresas que optarem por posturas menos protagonistas, seja como seguidor lento ou como não seguidor, mais sujeitas estarão aos riscos derivados de baixo nível de educação digital, bem como processos defasados no que que tange a cibersegurança.
Essas empresas não protagonistas em inovação tecnológica, com muita frequência apresentam uma grande inviabilidade para superar o gap nas dimensões: gestão e pessoas, pois é natural esperar que em uma empresa que não tenha a prática de adotar tecnologia em seus processos, também os seus colaboradores sejam pessoas não habituadas ao uso de tecnologia, e não tendo muita familiaridade com tecnologia podem apresentar dificuldades quando a empresa for obrigada a adotar inovações, o que se não for adequadamente tratado pode levar até níveis elevados de sabotagem.
Escolher o que fazer com respeito à inovação tecnológica não é uma decisão fácil. Mas é importante entender os riscos associados a cada postura. Indicamos três posturas iniciais: líder, seguidor rápido, ou seguidor lento. Desde que a empresa saiba muito bem o que está fazendo, uma vez que a consistência e a coerência ajudam muito nessas decisões, em outras palavras estamos nos referindo à existência de governança adequada, tema que abordaremos em futuros artigos.
Portanto, a postura de não seguidor é a única não recomendada, pelo fato de representar um risco muito grande do negócio.
O que devemos sempre considerar são os riscos inerentes a cada postura, e a partir do entendimento do mercado em que a empresa esteja situada, de sua estratégia de negócio, bem como de quanto de dinheiro esteja disposta a arriscar, podemos tomar alguma decisão.
*Álvaro Luiz Massad Martins é professor nos cursos de MBA e Pós-MBA da FGV, e coordenador acadêmico da Formação Executiva em Cibersegurança. Martins é doutor e mestre em Administração de Empresas pela EAESP – Fundação Getulio Vargas- SP, onde também se graduou em Administração de Empresas. Tem mais de 30 anos de experiência no segmento de Tecnologia da Informação, Atualmente, é Diretor Executivo da IT by Insight, consultoria que tem por missão ajudar as empresas na jornada em busca da Aceleração Digital, com especial foco em questões ligadas à cibersegurança.
Este artigo é de total responsabilidade do autor, não representando, necessariamente, a opinião do Hub Cybertech Br.