Podemos entender o metaverso como um mundo digital permanente conectado a muitos aspectos do mundo físico, incluindo pessoas, lugares e coisas. O metaverso representa diferentes possibilidades. Para alguns, nossa vida no metaverso pode ofuscar completamente nossas experiências no mundo físico. Vamos trabalhar, fazer compras e socializar principalmente no mundo virtual. Neste metaverso fantástico, haverá gêmeos digitais de lugares físicos e mundos virtuais únicos para explorar. Para outros, o metaverso será apenas mais um recurso tecnológico afim de facilitar as nossas vidas no mundo físico.
Se a televisão e as mídias sociais são tecnologias persuasivas, por sua capacidade de influenciar as atitudes e comportamentos das pessoas, o metaverso é uma tecnologia profundamente transformadora, capaz de modificar a nossa relação e percepção de mundo e o que as pessoas pensam que é a realidade.
Nossas experiências virtuais se tornarão tão importantes quanto nossas experiências no mundo físico e o uso da frase “mundo real” não se aplicará mais exclusivamente ao mundo físico. Estatisticamente falando, se houver milhões de mundos simulados e apenas um mundo físico, em qual desses nós provavelmente estaremos?
Estudos mostram que o nosso cérebro não diferencia o que é real, imaginação ou ilusão. Os mesmos processos de sinapses utilizados pelo cérebro durante a percepção de um objeto real é o mesmo processo de sinapses utilizados durante a imaginação desse mesmo objeto ou da visualização virtual dele.
O cérebro definitivamente não se importa se a experiência é real; ele aprende com ela de qualquer maneira. Portanto, o tempo que passarmos em vários ambientes na realidade virtual certamente mudará a nossa percepção e comportamento na realidade física. Sendo assim, todo conteúdo encantador, visualmente atraente, prazeroso, assustador, violento ou que provoque ansiedade pode fazer com que o nosso corpo reaja como se fosse real.
Hoje sabemos que o cérebro se reprograma rapidamente em resposta ao ambiente. Estudos demonstraram que uma variação no ambiente envia uma espécie de comando de adaptação em uma nova direção. O ajuste pode ser para melhor ou para pior. Simplesmente, a plasticidade cerebral (sua capacidade de aprender, expandir e se adaptar) funciona nos dois sentidos. Imagine então tudo o que pode acontecer com o cérebro e o nosso comportamento quando a IA sofisticada molda o ambiente em que operamos! Quais serão as consequências? Como as nossas emoções lidarão com a constante variação dos ambientes, experiências, pessoas?
O metaverso será sem dúvida uma nova realidade trazendo conceitos da vida real para o espaço digital com experiências virtuais aprimoradas, vívidas, intensas. Para que as pessoas vivam cada vez mais intensamente a realidade virtual desses universos, as tecnologias do metaverso passaram a hackear diferentes mecanismos cognitivos chave: a experiência de estar em um lugar e em um corpo, os processos de sintonia e sincronia cérebro x cérebro, e a capacidade de experimentar e induzir emoções.
Sobre avatares que nos representarão no metaverso, podemos dizer que eles são sem dúvida uma forma de expressão criativa, mas eles também permitem conformidade e escapismo. Nossas representações digitais afetam a forma como interagimos com os outros e podem determinar se nos encaixamos em grupos sociais ou se somos excluídos. Podemos intencionalmente criar representações que correspondam a corpos e aparências “socialmente aceitos” como padrão agradável, belo e atraente, mas o que acontece quando retornamos ao mundo físico e nos depararmos com a realidade estabelecida durante toda a nossa vida?
Muitas vantagens, por outro lado, já são uma realidade nessa era do metaverso. À medida que o Metaverso se expande, por exemplo, as empresas podem encontrar seu lugar e estabelecer-se de forma eficaz e sustentável.
As empresas que desejam se tornar resilientes para o futuro usarão o poder do metaverso para impulsionar seu crescimento e treinamento corporativo.
A inovação disruptiva dos ambientes de aprendizado de realidade mista do metaverso pode melhorar drasticamente o treinamento, o desenvolvimento e o aprendizado, isso já está mais do que provado. As empresas estão mudando cada vez mais para ambientes de trabalho remotos e híbridos, e isso enfatiza que os executivos não apenas reconhecem a necessidade, mas também adotam novas maneiras de treinar, sustentar e desenvolver seus funcionários para permanecerem competitivos e ágeis.
Não há dúvidas de que o uso do metaverso na saúde também já é uma realidade. A recente pesquisa da Digital Health Technology Vision 2022, feita pela consultoria Accenture, aponta que o metaverso terá um impacto muito positivo nas instituições, levando a uma transformação realmente inovadora.
O estudo estima ainda que o metaverso será capaz de reduzir as disparidades na saúde, compreender determinantes sociais e melhorar a jornada do paciente.
Claramente, essas possibilidades definem cenários totalmente novos com efeitos positivos e negativos. Aprendermos e nos prepararmos para interegirmos o mais naturalmente possível com esses cenários e desafios que o metaverso nos apresentam é uma necessidade. * Helena Levorato é especialista em neurociência e desenvolvimento de pessoas, além de cofundadora da Sociedade Brasileira de Inovação.
Este artigo é de total responsabilidade do autor, não representando, necessariamente, a opinião do Hub Cybertech Brasil.