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O impacto da cibersegurança na competitividade

foto de Álvaro Martins, no texto Maturidade em cibersegurança não é somente sobre frameworks

*por Álvaro Martins

O objetivo final de uma empresa é alcançar lucro perene, e, para tanto, elas precisam fazer o melhor uso possível de seus recursos, alocando-os de acordo com as estratégias de negócio traçadas, para assim ganhar competitividade. Ao longo do tempo, vemos a atenção deslocar-se de um tipo de recurso para outro. Assim, os primeiros pensadores da moderna ciência da administração, surgida após a chamada Revolução Industrial, focam suas teorias na organização da produção, como fizeram Frederic Taylor (1903) e Henri Fayol (1916), as quais foram seguidas e implementadas por empresários como Henry Ford, fundador da Ford.

Logo em seguida, vemos também as teorias focarem nos recursos humanos, tanto nos trabalhos da psicóloga Lilian Gilbreth, precursora da psicologia aplicada ao trabalho, que defendeu a ideia de que o aumento da produtividade depende fundamentalmente da atitude dos empregados, das oportunidades a eles oferecidas e do ambiente físico no local de trabalho, quanto nas contribuições seguintes de psicólogos e sociólogos como Elton Mayo e Mary Parker Follet, culminando com o surgimento da Teoria das Relações Humanas em 1940.

Mais adiante, na década de 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial, surge o conceito moderno de marketing e as teorias deslocam-se também para o estudo dos mercados, com as primeiras teorias de Levitt, Drucker e Kotler.

Mais recentemente, e cada vez mais, vemos a tecnologia desempenhar um papel relevante nas empresas, tornando-se um dos recursos mais importantes na busca pelo objetivo final de qualquer empresa, como mostram também os trabalhos de Richard Nolan e Warren McFarlan professores da Harvard Business School.

Tanto é verdade que os gastos e investimentos corporativos em tecnologia aumentam a cada ano, como apontado por pesquisa que vem sendo realizada há 33 anos pelo FGVcia, Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGV EAESP, segundo a qual, no Brasil, os gastos e investimentos em tecnologia nas empresas hoje apresenta uma taxa média de 8,7% quando medido como um percentual da receita.

Transformação digital

Em função do alto grau de competição na maioria dos mercados, as empresas se defrontam com o desafio de se transformar para continuar tendo competitividade, e a tecnologia pode ser um aliado fundamental. Entretanto, não existe mágica e muitas vezes o caminho não é fácil, exigindo não somente um grande esforço, mas também profundas mudanças.

O alinhamento entre a estratégia de tecnologia e as estratégias de negócios é a principal questão a ser tratada para se ter sucesso nesta transformação digital, e este assunto tem início na visão que se tem sobre o papel desempenhado pela tecnologia no negócio.

Alguns acreditam que a tecnologia tem um papel estratégico no negócio, sendo até mesmo vista como um recurso para reconfigurar modelos de negócios, e, no limite, redefinir a competitividade, habilitando a chamada inovação disruptiva; enquanto outros acreditam que a tecnologia não deve ser tratada como um assunto estratégico, visão também compartilhada pelo pesquisador e autor americano Nicholas Carr.

Entretanto, independente da visão que se tenha, após a empresa já ter superado os estágios iniciais do uso de tecnologia, as operações tornam-se cada vez mais dependentes dos recursos digitais, de modo que se a tecnologia parar o negócio também para. Então, quanto mais a empresa usa tecnologia, quanto mais ela gasta dinheiro em tecnologia, quanto mais maturidade ela alcança, mais a empresa estará dependente do uso da tecnologia.

Importante ressaltar também que a empresa só vai conseguir extrair benefícios tangíveis do uso de tecnologia, seja redução de custos, aumento de produtividade, melhoria de qualidade, ou maior flexibilidade para poder se transformar, à medida que ganhe maturidade.

Portanto, somente em estágios mais avançados de maturidade é que a tecnologia não apenas dá suporte ao negócio, mas também influencia os planos de negócio, e é neste estágio que a tecnologia pode contribuir para agregar valor aos produtos e serviços ou aos processos internos.

Por isso é imperativo às empresas buscarem maior maturidade no uso de tecnologia, para assim conseguirem fazer com que este recurso funcione como meio para ajudar o negócio a atingir os seus objetivos, em outras palavras, para assim conseguirem fazer com que haja o alinhamento entre a estratégia de tecnologia e as estratégias de negócios.

Desafios em cibersegurança

Com o crescente ambiente de negócios digitais, inclusive acelerado pela pandemia que vivenciamos nos últimos anos, todos nós dependemos cada vez mais da tecnologia para diversas atividades, seja no ambiente profissional ou no pessoal, com a tecnologia avançando a passos largos, com novas opções de aplicativos, maior velocidade de comunicação (5G), e uma maior conveniência para todos, além de muitas melhorias no ambiente profissional, com potencial de ganhos para as empresas e pessoas.

Entretanto, ao mesmo tempo, também assistimos ao aumento das ameaças cibernéticas, com o cibercrime sofisticando bastante as formas de ataque, gerando enormes prejuízos para as organizações e para as pessoas. A ponto de o último Relatório de Riscos Globais, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, neste ano de 2022, apontar a cibersegurança como um dos principais riscos para os próximos anos.

É importante lembrar que segurança cibernética depende de três pilares: ferramentas tecnológicas, processos/procedimentos, e a educação digital das pessoas; e mesmo empresas muito maduras no tema, não conseguem garantir 100% de segurança.

Da mesma forma que pensamos na maturidade como um dos aspectos mais relevantes para uma boa gestão de tecnologia, também precisamos persegui-la para fazer frente aos desafios em cibersegurança. É preciso aumentar a maturidade no assunto, o que passa necessariamente por uma maior colaboração e coordenação entre todas as partes envolvidas: sociedade civil, universidades, empresas e Estado.

Me sinto muito honrado em poder fazer parte e contribuir com o Movimento CyberTech Brasil, iniciativa das mais importantes para fomentar a colaboração e a troca de conhecimento e experiências. Como primeira contribuição aceitei o convite para produzir artigos e conteúdos sobre o tema, e desta forma convido vocês para, ao longo dos próximos meses, pensarmos juntos sobre este relevante desafio: como fomentar o aumento de maturidade em cibersegurança?

*Álvaro Luiz Massad Martins é professor nos cursos de MBA e Pós-MBA da FGV, e coordenador acadêmico da Formação Executiva em Cibersegurança. Martins é doutor e mestre em Administração de Empresas pela EAESP – Fundação Getulio Vargas- SP, onde também se graduou em Administração de Empresas. Tem mais de 30 anos de experiência no segmento de Tecnologia da Informação, tendo atuado em posições de direção em empresas como: American Express, Xerox do Brasil, Embratel, Diveo, Intelbras, Mandriva e Alcatel-Lucent. Atualmente, é Diretor Executivo da IT by Insight, empresa de consultoria na área de TI, que tem por missão ajudar as empresas na jornada em busca da Aceleração Digital, com especial foco em questões ligadas à cibersegurança; além de atuar como professor nos cursos de MBA e Pós-MBA da FGV, e coordenador acadêmico da Formação Executiva em Cibersegurança. Mais informações: https://www.linkedin.com/in/alvaromartins/

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