Segundo João Gabriel, especialista em tecnologia e em cibersegurança, sim. Os índices de vulnerabilidade corporativa não param de subir e elevam, com eles, o estado de alerta das equipes de cibersegurança corporativa. Um estágio de alerta constante que começa a impactar a qualidade de vida dos profissionais e, consequentemente, reduzir o interesse pela área.
Tanto que um índice divulgado esta semana pelo Boston Consulting Group (BGC) indica que apenas 25% das mulheres especialistas em tecnologia figuram nos times de cibersegurança. Além de não se sentirem representadas, elas acreditam ser difícil conciliar as responsabilidades da vida doméstica com o desenvolvimento e a alavancagem da carreira nesta área.
João Gabriel, que é top voice no LinkedIn, lembra que o período de pandemia da COVID-19 acelerou não só a transformação digital dos negócios, como fortaleceu a cultura do trabalho remoto, algo que abre portas para as vulnerabilidades digitais e, consequentemente, amplia a necessidade de monitoramento dos negócios pelos profissionais de cibersegurança.
Para ele, o atual nível de vulnerabilidade das organizações gera stress aos profissionais, algo tão preocupante quanto a carência de mão de obra especializada, outro problema a ser enfrentado no mundo todo.
“É uma pressão acima do que do que o profissional pode suportar. Saímos de um ambiente controlado, onde os dados corporativos eram protegidos por paredes, para um ambiente de trabalho remoto, com acesso por meio de redes e computadores desconhecidos da empresa. Isto aumenta o risco e as preocupações da equipe de segurança”, alerta. “Passamos a conviver com problemas que não existiam antes. O pessoal de ciber hoje tem que se preocupar com os sistemas, a infraestrutura e com a educação e conscientização do usuário, para que ele se sinta parte da situação e da solução do problema”, completa.
Segundo João Gabriel é muito comum entre os usuários ignorarem as recomendações de uso de atualização de senhas fortes, a adoção do duplo fator de autenticação, o cuidado ao usar redes wi-fi abertas para trabalhar para realizar tarefas de trabalho etc. “Isto gera desgaste ao profissional, que a maior parte do tempo deve estar dedicado a mitigar os riscos”, diz.
Ou seja, treinado para lidar com aspectos técnicos, o profissional de ciber hoje precisa acumular habilidades de relações humanas, para sensibilizar os usuários. E frente a pressão pela salvaguarda das informações, é possível que este profissional falhe em algum momento. Por isto, João Gabriel recomenda às empresas agirem em duas frentes: na valorização do profissional; e na formação de novos talentos.
A valorização, porque, segundo João Gabriel, o profissional de cibersegurança muitas vezes são remunerados abaixo dos seus pares em outras áreas da tecnologia. E a formação de talentos, porque a academia não está acompanhando a demanda. A formação exige tempo e recursos financeiros, uma equação que são será positiva, se todos – governo, academia e empresas – se debruçarem na solução.